2025 - Volúpia | Onde já não se está
PT
Volúpia | Onde já não se está é um projeto processual e experimental. Parte de uma prática viva que assume diferentes formas ao longo do seu acontecer: desenhos, vídeos, esculturas efêmeras ou ações. A performatividade aqui manifesta-se como um gesto elementar, mínimo — um rasto.
O ponto de partida deu-se com o encontro de um pequeno objeto de barro, de forma retangular, recolhido durante uma caminhada em direção à montanha, na cidade de Sófia, na Bulgária. Acredito que esse objeto seja um fragmento de chão que, de forma estranha, surge num contexto altamente descontextualizado. Esse fragmento, silencioso e acidental, passou a operar como matriz — simbólica e material — para uma série de desenhos e derivações.
A ação de demarcar torna-se, assim, o centro da proposta: recordar o percurso e traduzi-lo. Mas esta tradução é livre, intuitiva e poética — não procura a coerência cartográfica, mas propõe antes uma geografia da deriva, uma cartografia do extravio. O projeto, na sua essência, não se ancora na lógica do espetáculo. Em vez disso, abriga-se na cerimónia, alimenta-se do repouso, do jogo, do cuidado, do afeto e da escuta.
Todos os materiais utilizados são recolhidos ao longo do processo — cartões, tintas secas, papéis esquecidos, restos. São fragmentos que, tal como o gesto que os convoca, recusam a ideia de origem ou de destino, preferindo habitar os vários intervalos.
ENG
Volúpia | Onde já não se está is a processual and experimental project. It stems from a living practice that takes on different forms throughout its unfolding: drawings, videos, ephemeral sculptures, or actions. Performative presence here manifests as an elemental, minimal gesture — a trace.
The starting point was the encounter with a small rectangular clay object, found during a walk towards the mountain in the city of Sofia, Bulgaria. I believe this object to be a fragment of ground that, in a strange way, appears in a highly decontextualized setting. This silent and accidental fragment began to operate as a matrix — both symbolic and material — for a series of drawings and derivations.
The act of marking becomes the core of the proposal: to remember the path and translate it. But this translation is free, intuitive, and poetic — it does not seek cartographic coherence but instead suggests a geography of drift, a cartography of loss. At its core, the project does not anchor itself in the logic of spectacle. Instead, it shelters in ceremony, nourishes itself through rest, play, care, affection, and attentive listening.
All materials used are collected along the way — cardboard, dried paint, forgotten papers, remnants. These are fragments that, like the gesture that gathers them, reject the notion of origin or destination, choosing instead to inhabit the in-between.
Um projecto de Flávio Rodrigues
Apoio: Ministério da Cultura/Dgartes