escrita | da atenção pluriprisma

PT
"escrita | da atenção pluriprisma" é um projeto experimental, processual e de carácter performativo, é concebido a 360º e visa ser realizado em espaços cujas características permitam ao público escolher a perspectiva, a distância e a possibilidade de se locomover. À semelhança dos meus anteriores projetos, proponho-me à continuidade de uma reflexão e pesquisa que coloca em prática questões em torno da performatividade associada à ação de desenhar ou construção de dispositivos dentro do campo da instalação e escultura. Em síntese, entre a ação e o registo é construída uma afinidade complementar e indivisível, nesse sentido gera-se uma anotação una e força conjunta durante o processo de realização. Mesmo quando o corpo desaparece dando por terminada a ação, e o registo se torna de forma retórica objeto expositivo, este permanece transportando em si a memória de um gesto sequencial, consequencial e parte indissociável da ação pictórica que o inscreveu.
O meu pai é marceneiro e, nas traseiras da sua oficina, foi armazenando ao longo dos anos uma série de peças soltas de madeira que são, na sua maioria, restos de obras. O que lá está não tem uma função exacta, existe como acumulação na espera de talvez poder servir no futuro. Encontrei naquele lugar muita força, beleza e entendi-o passível do levantamento de questões que acredito serem fundamentais, associadas ao território, ao consumo, ao valor, à utilidade e, claro, à memória. Comecei aos poucos a resgatar algumas dessas peças, principalmente as de menor dimensão, interessando-me logo desde o início o simples gesto de escolher algo que caberia no meu bolso. Com as visitas regulares, comecei a alimentar em estúdio um arquivo de madeiras, de diferentes tipos, cores e texturas. Quando comecei a ter uma coleção significativa passei, utilizando o chão como tela, na sua disposição espacial a desenhar e a construir figuras, à partida sem objetivos claros. Os desenhos passaram a funcionar como uma linha que se curva e que se deixa metamorfosear ao sabor da intuição, não correspondendo a uma ideia ou lógica predefinida. A dimensão do desenho foi crescendo com a coleção de madeira e, na alimentação desta prática, passei a interessar-me sobre a construção de algo que me engole no tamanho (o corpo) e que se me assemelha na fragilidade (a vida). A composição escultórica – prefiro chamar assim - é quebradiça e altamente vulnerável, no sentido em que não se defende de um simples toque. Assemelha-se, desta forma, à transitoriedade que é a existência, este lugar por onde se faz vida. Estamos a perecer, sempre a um simples toque da destruição, mesmo que seja o princípio de uma nova e outra possível construção.


ENG
"'escrita | da atenção pluriprisma" is an experimental, procedural, and performative project, conceived in 360 degrees. It aims to be carried out in spaces where the characteristics allow the audience to choose the perspective, distance, and the possibility of moving around. Similar to my previous projects, I propose to continue a reflection and research that puts into practice questions surrounding performativity associated with the act of drawing or the construction of devices within the field of installation and sculpture. In summary, between the action and the record, a complementary and indivisible affinity is built, generating a single annotation and joint force during the realization process. Even when the body disappears, concluding the action, and the record rhetorically becomes an exhibition object, it continues to carry within itself the memory of a sequential, consequential gesture, an indivisible part of the pictorial action that inscribed it.
My father is a carpenter, and in the back of his workshop, he has been storing over the years a series of loose pieces of wood, mostly remnants of his works. What is there does not have an exact function; it exists as an accumulation waiting to perhaps be useful in the future. I found a lot of strength and beauty in that place, understanding it as capable of raising fundamental questions associated with territory, consumption, value, utility, and, of course, memory. Gradually, I started rescuing some of these pieces, especially the smaller ones, being intrigued from the beginning by the simple gesture of choosing something that would fit in my pocket. With regular visits, I began to feed a wood archive in the studio, with different types, colors, and textures. When I had a significant collection, I started, using the floor as a canvas, arranging them spatially to draw and construct figures, initially without clear objectives. The drawings began to function as a line that bends and allows itself to metamorphose according to intuition, not corresponding to a predefined idea or logic. The size of the drawing grew with the wood collection, and in nourishing this practice, I became interested in the construction of something that engulfs me in size (the body) and resembles me in fragility (life). The sculptural composition, as I prefer to call it, is brittle and highly vulnerable in the sense that it does not defend itself from a simple touch. It resembles, in this way, the transitoriness that is existence, this place where life happens. We are perishing, always with a simple touch of destruction, even if it is the beginning of a new and possibly another construction.

Creation and performance by Flávio Rodrigues
Video recording: Andrea Azevedo
Creation support: Fundação GDA
Project created as an Associated Artist of Balleteatro (Porto)

This project was presented for the first time and co-produced by Corpo+Cidade/Festival DDD (Porto)

Agenda
- 3 a 8 de Janeiro de 2023, residência de criação em O Rumo do Fumo (Lisboa);
- 13 a 24 de Março de 2023, residência de criação em Sekoia, inserido no programa ArtistShelter (Porto);
- 23 de Abril de 2023, apresentação em Estação do Metro de São Bento, como parte do projecto curatorial Corpo+Cidade inserido no Festival DDD (Porto);
- 14 de Junho de 2024, apresentação em Praça 8 de Maio, inserida no contexto da Bienal ANOZERO (Coimbra);


Imagens promocionais


#1

Imagens da performance / exposição em Estação São Bento (Porto) - Festival DDD / Corpo + Cidade



#2

Imagens da performance / exposição em Praça 8 de Maio (Coimbra) - Bienal ANOZERO