Malandro | Sem Culpa

PT
Na performance Malandro | Sem Culpa, uma linha contínua e curva é construída peça por peça, a partir de uma coleção de pequenos objetos maioritariamente metálicos — pregos, parafusos, arames, esferas e outras formas enferrujadas — recolhidos pelo performer ao longo de caminhadas, visitas a fábricas abandonadas e explorações em espaços esquecidos. Estes elementos, todos com sinais de desgaste e resistência, são dispostos um a um, formando um traçado que se estende lentamente por todo o espaço.
A ação performativa propõe-se como um gesto de resistência à lógica da produtividade. Mais do que construir um resultado final, interessa aqui o tempo da deriva, do desvio e da atenção contínua. O performer movimenta-se com lentidão, intercalando pausas, descansos e momentos de escuta. Essa oscilação entre o fazer e o não fazer invoca uma forma de presença que valoriza a fragilidade, o afeto e o cuidado — num exercício deliberado de recusa ao ritmo acelerado do mundo contemporâneo.
Malandro | Sem Culpa articula o brincar como ação política e poética. Brincar não como ato leviano ou aleatório, mas como modo de sustentar a permanência no mundo com outra ética: a do tempo dilatado, do gesto atento, da não urgência. Cada fragmento do traço é um manifesto silencioso de escuta e memória, uma linha de força composta por tudo aquilo que foi descartado, mas que aqui, em conjunto, exige presença.
Criada para a Bienal de Cerveira 2024, sob curadoria de Mafalda Santos e o tema "És Livre", a obra questiona o que é liberdade em tempos de aceleração e consumo. E propõe, em resposta, a permanência do corpo errante — que não se apressa, que não produz, mas que, ao descansar, cria.

ENG
Malandro | Sem Culpa is a durational performance in which a continuous, curved line is constructed piece by piece from a collection of small, primarily metallic objects — nails, screws, wires, spheres, and other rusted forms — gathered by the performer during solitary walks, visits to abandoned factories, and explorations of forgotten spaces. Each of these elements, marked by signs of wear and resilience, is placed one by one, forming a path that slowly stretches across the space.
The performative action presents itself as a gesture of resistance against the logic of productivity. Rather than aiming for a final result, it privileges drift, deviation, and sustained attention. The performer moves slowly, alternating moments of placement with pauses, rest, and attentive listening. This oscillation between doing and not doing evokes a form of presence that values fragility, care, and affection — in a deliberate refusal of the accelerated pace of contemporary life.
Malandro | Sem Culpa frames play not as frivolous or random, but as a political and poetic act — a way to inhabit the world with a different ethic: one of extended time, attentive gesture, and non-urgency. Each segment of the drawn line becomes a silent manifesto of listening and memory, a line of force made up of all that has been discarded, yet here, collectively, demands visibility and presence.
Created for the 2024 Cerveira Biennial, under the curatorship of Mafalda Santos and the theme "You Are Free", the work questions what it means to be free in an age of acceleration and consumption — offering, in response, the presence of the wandering body: unhurried, unproductive, yet creative in its act of resting.

Projeto criado para a Bienal de Cerveira 2024, sob o tema 'És Livre,' com curadoria de Mafalda Santos;